quarta-feira, 16 de julho de 2014

(Crônica) Sobre a dor e a delícia de se estar sozinho


No decorrer da vida é impressionante o quanto nos vemos dependentes de algo para ficarmos felizes. Eventos, amigos, família, namorado(a), internet etc. Mas e quando algo dar errado? Quando a família viaja, o namoro termina e o amigo resolve morar em outro lugar?

Imagine que você recebe uma proposta no emprego para mudar de cargo. Algo melhor, uma renumeração maior, porém é em outra cidade. Ou até mesmo em outro estado. E aí? De inicio você vai ter que viver sozinho. Será que conseguiria?

Quem se apega fácil (como eu!) sabe bem sobre o que estou falando. Todo sábado tem uma festa com os amigos, tem o namorado para compartilhar sobre aquele CD bacana que você ouviu, tem a prima para te acompanhar àquela viagem... Ótimo! Mas imagina que chato ir à um shopping sem ter uma amiga para palpitar que a blusinha azul ficou melhor que a amarela. Imagina que chato ir ao cinema sem ter um paquera para acariciar seu rosto enquanto você descansa a cabeça no ombro dele. Imagina que chato fazer um mochilão* sozinha sem ter uma prima/irmã para compartilhar as mesmas emoções.  

Deixo claro que não suporto sair sozinha nem para comprar pão. Porém, semana passada fui à praia sozinha. Um rapaz chegou e tentou iniciar uma conversa com a seguinte pergunta: o que uma garota como você faz sozinha aqui? Eu, educadamente, respondi que apenas estava curtindo a minha própria companhia. Após suspender as sobrancelhas e hesitar antes de falar, ele me disse que é sempre bom.

De fato é sempre bom, mas por qual motivo é tão difícil? Ah, claro, sozinho não tem graça, não tem bagunça, não tem resenha. Mas quem gosta de degustar desse prato chamado "companhia própria", sabe como ele é saboroso. Não é vergonha ficar sozinho. Não é vergonha tirar um tempo para si. Para refletir. Para mudar. Para cuidar de quem mais devemos amar: nós mesmos. Pelo contrário, é algo necessário. É necessário irmos à praia sozinhos e sentir os grãos de areia entre os nossos pés, ver o quebrar das ondas. Assistir um filme, ouvir uma música boa e dançar sem ninguém te ver, sabe? Coisas pequenas que são boas quando compartilhadas com alguém, mas fazem um bem danado quando as realizamos sozinhos.

É isso o que eu quero dizer. Ninguém encontra-se realmente sozinho quando resolve curtir a si mesmo, mas parece que basta ficarmos a sós que a nossa solidão resolve atrair a nossa atenção de qualquer forma. Acalme-se; é só não dar atenção à ela. 

A praia estava cheia de um vento bom, de uma liberdade.
E eu estava só. E naqueles momentos não precisava de ninguém.
Preciso aprender a não precisar de ninguém.
É difícil, porque preciso repartir com alguém o que sinto."
— Clarice Lispector

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P.s: Se vocês gostaram do texto e querem falar algo sobre o assunto, deixem um breve comentário. Adoraria saber a opinião de vocês sobre "Se estar sozinho". Espero que tenham gostado. 
*mochilão - Conhecer várias cidades/país em poucos dias.

2 comentários:

  1. Quero conseguir curtir minha própria companhia assim como você fez... Terminei um relacionamento recentemente e sinto falta de alguém para me acompanhar :(
    Amei o blog, já estou seguindo aqui :)
    Beijos, http://leiturasemfrescuras.blogspot.com.br/

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  2. Olá, Mariana.
    De início é bem difícil, viu? Ainda mais quando o "apego" é/era presente. Mas com o passar do tempo (olha o clichê rs) e, com a tentativa/prática de focar em outras coisas, você acaba conseguindo. Esse meu texto foi inspirado em um momento assim. Te desejo força!
    Obrigada pela visita, por seguir e, principalmente, pelo comentário. Visitarei o seu cantinho.
    Beijos, moça!

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